quinta-feira, 17 de junho de 2010

Congressistas dos EUA dizem que BP ignorou riscos no Golfo do México

Em depoimento, diretor-executivo da petroleira pediu perdão por vazamento de petróleo.
BBC



O diretor-executivo da petroleira britânica BP, Tony Hayward, ouviu nesta quinta-feira (17) duras críticas de congressistas americanos, que acusaram a empresa de ter ignorado os riscos da exploração de petróleo no Golfo do México.

"Nós não conseguimos encontrar nenhuma evidência de que vocês prestaram atenção aos enormes riscos que a BP estava assumindo", disse o presidente da Comissão de Energia e Comércio da Câmara dos Representantes (deputados federais), Henry Waxman, em audiência sobre o vazamento de petróleo no Golfo.

"Nós revisamos 30 mil páginas de documentos da BP, incluindo seus e-mails. Não há um único e-mail ou documento que mostre que vocês prestaram a menor atenção aos riscos desse poço", disse Waxman, referindo-se ao acidente com a plataforma operada pela BP, que ocorreu no final de abril e causou o vazamento.

"A complacência corporativa da BP é espantosa", afirmou o deputado democrata.

Waxman disse ainda que há uma "completa contradição" entre as palavras e as ações da BP.

"Você foi trazido para fazer da segurança a prioridade da BP, mas sob sua liderança a BP assumiu os mais extremos riscos", afirmou o congressista, ao se referir a Hayward.

"A BP cortou aqui e ali para economizar US$ 1 milhão aqui, algumas horas ou dias ali, e agora toda a costa do Golfo está pagando o preço."

Desculpas
Após ouvir as críticas dos congressistas, Hayward pediu desculpas pelo desastre e disse que a empresa não vai descansar até resolver o problema.

Quando se preparava para começar a falar, o executivo foi interrompido por uma mulher, que protestava aos gritos e com as mãos sujas de preto e teve de ser contida pelos seguranças.

Só após a manifestante ser retirada do local, Hayward iniciou seu depoimento.

"A explosão e o incêndio na (plataforma) Deepwater Horizon e o resultante vazamento de petróleo no Golfo do México nunca deveriam ter acontecido, e eu lamento profundamente que tenham", disse o executivo.

"Entendo o quão séria é a situação. É uma tragédia", afirmou.

"Eu sei que apenas ações e resultados, e não meras palavras, poderão dar a vocês a confiança que buscam. Eu dou a minha garantia, como líder da BP, de que nós não vamos descansar até que tenhamos consertado isso", disse Hayward.

O executivo afirmou ainda que a BP é "uma empresa forte" e que não vai poupar recursos.

"Nós e toda a indústria vamos aprender com esse terrível evento e emergir mais fortes, sábios e seguros."

Na quarta-feira, após uma reunião de mais de quatro horas com o presidente Barack Obama, a cúpula da BP concordou com a criação de um fundo independente no valor de US$ 20 bilhões (cerca de R$ 36 bilhões) para pagar indenizações às vítimas do vazamento.

A empresa anunciou também que vai suspender o pagamento de dividendos a acionistas neste ano, o que era uma demanda do governo americano, para garantir que as vítimas sejam compensadas.

Vazamento
O vazamento no Golfo do México é o principal desastre ambiental da história americana e começou em 20 de abril, quando a Deepwater Horizon, operada pela BP, explodiu e afundou, matando 11 funcionários.

Desde então, inúmeras tentativas de conter completamente o vazamento de petróleo fracassaram.

A técnica mais recente utilizada pela BP, um dispositivo sobre o poço danificado, que está a cerca de 1,5 mil metros de profundidade, tem conseguido conter apenas em torno de 18 mil barris por dia.O volume coletado ainda é insuficiente para interromper o vazamento, estimado entre 35 mil e 60 mil barris de petróleo por dia.

Um segundo dispositivo está sendo colocado no local do vazamento.

A BP afirma que já gastou mais de US$ 1,6 bilhão (cerca de R$ 2,9 bilhões) desde o início do vazamento.

O valor das ações da empresa já caíram pela metade desde abril.

Nesta quinta-feira, porém, depois do anúncio da criação do fundo, as ações da empresa fecharam em alta de 6,74% na Bolsa de Londres.

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